Na mitologia grega, o Minotauro (em grego: Μῑνώταυρος; em latim: Minotaurus;
em etrusco: Θevrumineś),
era segundo sua representação mais tradicional entre osgregos antigos, uma criatura imaginada com a
cabeça de um touro sobre o corpo de um homem .
O autor romano Ovídio descreveu-o simplesmente como "parte
homem e parte touro. Habitava o centro do Labirinto, uma elaborada construção erguida para o rei Minos de Creta,
e projetada pelo arquiteto Dédalo e seu filho,Ícaro especificamente para abrigar a
criatura. O sítio histórico de Cnossos, com mais de 1300 compartimentos
semelhantes a labirintos, já foi identificado como o local do labirinto do
Minotauro, embora não existam provas contundentes que confirmem ou desmintam
tal especulação. No mito, o Minotauro eventualmente morre pelas mãos do herói ateniense Teseu.
O termo Minotauro vem do grego antigo Μῑνώταυρος, composto etimologicamentepelo nome Μίνως (Minos)
e o substantivo ταύρος ("touro"), e pode ser traduzido como "(o)
Touro de Minos". Em Creta, o Minotauro era conhecido por seu nome
próprio, Astérion, um nome
que ele compartilhava com o pai adotivo de Minos.
Minotauro, originalmente, era apenas utilizado
como nome próprio,
referindo-se a esta figura mítica. O uso de minotauro como um
substantivo comum que designa os membros de uma raça fictícia e genérica de
criaturas antropogênicas com cabeças de touro surgiu bem posteriormente, no
gênero de ficção fantástica do século XX.
O "Deus com
Chifres" de Enkomi, Chipre.
Após assumir o trono de Creta, Minos passou
a combater seus irmãos pelo direito de governar a ilha. Rogou então ao deus do mar, Posidão que lhe enviasse um touro branco
como a neve, como um sinal de aprovação ao seu reinado. Uma vez com o touro,
Minos deveria sacrificar o
touro em homenagem ao deus, porém decidiu mantê-lo devido a sua imensa beleza.
Como forma de punir Minos, a deusaAfrodite fez com que Pasífae, mulher de Minos, se apaixonasse
perdidamente pelo touro vindo do mar oTouro Cretense. Pasífae pediu então ao
arquetípico artesão Dédalo que lhe
construísse uma vaca demadeira na qual ela pudesse se esconder
no interior, de modo a copular com o touro
branco. O filho deste cruzamento foi o monstruoso Minotauro. Parsífae cuidou
dele durante sua infância, porém eventualmente ele cresceu e se tornou feroz;
sendo fruto de uma união não-natural, entre homem e animal selvagem, ele não
tinha qualquer fonte natural de alimento, e precisava devorar homens para
sobreviver. Minos, após aconselhar-se com o oráculo em Delfos, pediu a Dédalo que lhe construísse um gigantesco labirinto para abrigar a criatura,
localizado próximo ao palácio do próprio Minos, em Cnossos.
Em nenhum lugar a essência do mito foi expressa de
maneira mais sucinta que nas Heróidas, atribuídas a Ovídio, em que a filha de Pasífae reclama da
maldição de seu amor não-correspondido: "Zeus amou Europa, como um touro,
escondendo sua cabeça divina - ela deu origem ao nosso povo. Um fardo e uma
punição nasceram do útero de minha mãe, Pasífae, montada por touro que ela
enganou.” Leituras mais literais e prurientes, que enfatizam o mecanismo
envolvendo a cópula em si podem, talvez de maneira intencional, obscurescer o casamento
místico do deus na forma de touro, um mythos Minoicaque
era estranho aos gregos.
O Minotauro costuma ser representado na arte clássica com
o corpo de um homem, e a cabeça e rabo de um touro. Uma das formas assumidas
pelo deus rio Aqueloo ao cortejar Dejanira é a de um homem com uma cabeça
de touro, de acordo com a peça teatralTraquínias,
de Sófocles.
Dos períodos clássicos até o Renascimento, o Minotauro aparece como tema de
diversas descrições do Labirinto. O relato do autorromano Ovídio sobre o Minotauro, em latim,
que não elabora sobre qual metade da criatura era touro e qual era homem, foi a
mais difundida durante a Idade Média, e diversas ilustrações feitas no
período e depois mostram o Minotauro com uma configuração inversa em relação à
sua aparência clássica: uma cabeça e torso de homem sobre um corpo de um touro,
semelhante a um centauro. Esta
tradição alternativa durou até o Renascimento, e ainda figura em versões
modernas do mito, como as ilustrações de Steele
Savage feitas para Mythology, de Edith Hamilton (1942).
Ríton com a forma de uma cabeça de touro,
no pavilhão grego da Expo '88.
Androgeu, filho de Minos,
foi morto pelos atenienses,
invejosos das vitórias obtidas por ele nosJogos Panatenaicos.
Já outra versão do mito afirma que Androgeu teria morrido em Maratona,
atacado pelo Touro Cretense, o
ex-amante taurino de sua mãe, que Egeu, rei de Atenas, tinha ordenado que ele
matasse. A tradição mais comum conta que Minos teria então declarado guerra a
Atenas para vingar a morte de seu filho, e saiu vitorioso do confronto. Catulo, em seu relato do nascimento do Minotauro, se
refere a outra versão do mito, na qual Atenas teria sido "obrigada pela praga cruel
a pagar compensação pela morte de Androgeu." Egeu deve então evitar a
praga causada por seu crime enviando "jovens rapazes, bem como as melhores
garotas solteiras, para um banquete" do Minotauro. Minos exigia que pelo
menos sete rapazes e sete donzelas atenienses, escolhidos através de sorteio,
lhe fossem enviados a cada nove anos (ou, segundo alguns relatos, anualmente )
para ser devorado pelo Minotauro.
Quando se aproximava a data do envio do terceiro
sacrifício o jovem príncipe Teseu se ofereceu para
assassinar o monstro, prometendo a seu pai, Egeu, que ordenaria que o navio que
o trouxesse de volta para casa erguesse velas brancas,
caso ele tivesse sido bem-sucedido na empreitada, ou velas negras, caso ele
tivesse morrido. Em Creta, Ariadne, filha de Minos,
se apaixona por Teseu e o ajuda a se deslocar pelo labirinto, que tinha um
único caminho que levava até seu centro. Na maior parte dos relatos Ariadne dá
a ele um novelo, que ele utiliza para marcar seu
caminho de modo que ele possa retornar por ele. Teseu então mata o Minotauro
com a espada de Egeu, e lidera os outros
atenienses para fora do labirinto. Na viagem de volta, no entanto, ele se
esquece de erguer as velas brancas e seu pai, ao ver o navio e imaginar que
Teseu estava morto, se suicida, arremessando-se no mar que desde então leva seu nome.
Etruscos
A visão essencialmente ateniense do Minotauro como
antagonista de Teseu reflete as fontes literárias, que são parciais às
perspectivas atenienses. Os etruscos, que
consideravam Ariadne companheira de Dioniso, e não de Teseu, apresentavam um ponto
de vista diferente do Minotauro, nunca visto na arte grega: numa taça de vinho
etrusca feita em figura vermelha da
primeira metade do século IV a.C., Pasífae apoia de maneira terna
o Minotauro criança em seu colo.
Interpretações
A luta entre Teseu e o Minotauro foi representada
com frequência na arte grega. Um didracma de Cnossos exibe num lado o
labirinto, e no outro o Minotauro cercado por um semicírculo de pequenas bolas,
provavelmente representando estrelas; um dos nomes do
monstro era Astérion,
"estrela" em grego antigo.
As ruínas do palácio de Minos, em Cnossos, foram
descobertas, porém nenhum labirinto foi encontrado ali. O número enorme de
aposentos, escadas e corredores do palácio fez com que alguns arqueólogos
sugerissem que o próprio palácio teria sido a fonte do mito do labirinto, uma
ideia que geralmente é desacreditada nos dias de hoje. Homero, descrevendo
o escudo de Aquiles,
comentou que o labirinto seria um recinto para as danças cerimoniais de
Ariadne.
Alguns mitólogos modernos vêem o Minotauro como uma
personificação solar, uma adaptaçãominoica do Baal-Moloch dos fenícios. A morte do Minotauro por Teseu,
neste caso, indicaria o rompimento das relações tributárias de Atenas com a
Creta minoica.
De acordo com o estudioso britânico A.
B. Cook, Minose o Minotauro são apenas
duas formas diferentes do mesmo personagem, que representa odeus-sol dos cretenses, que retratavam o
sol na forma de um touro. Tanto Cook quanto oantropólogo escocês J. G. Frazer explicaram
a união de Pasífae com um touro como uma cerimônia sagrada, na qual a rainha de
Cnossos se casava com um deus em forma de touro, da mesma maneira que a esposa
do Tirano em Atenas havia se casado com
Dioniso. O arqueólogo francês Edmond Pottier, que não discute a existência
histórica de Minos, a partir da história de Fálaris, considera provável que em Creta (onde
pode ter existido um culto aos touros, juntamente com o do labrys) uma forma de tortura era trancar as vítimas
dentro da barriga de um touro de bronze incandescente. A história
de Talo, o homem de bronze cretense, que se deixava em brasa e abraçava os
estrangeiros assim que eles pisavam na ilha, provavelmente teria origem
semelhante.
Uma explicação histórica do mito se refere ao
período em que Creta era a principal potência política e cultural do mar Egeu.
À medida que a cidade de Atenas (e provavelmente outras cidades gregas
continentais) pagavam tributo a Creta, pode-se assumir que este tributo incluía
jovens de ambos os sexos, destinados ao sacrifício ritual.
A cerimônia era executada por um sacerdote que utilizava uma máscara ou cabeça
de touro, o que explicaria então o imaginário relacionado ao Minotauro. Este
sacerdote também poderia ser filho de Minos.
Com a Grécia continental livre do domínio cretense,
o mito do Minotauro teve como papel distanciar a incipiente consciência
religiosa das poleis helenas das
crenças minoicas.
O Minotauro no Inferno de
Dante
O Minotauro, a infamia di Creti,
aparece brevemente no Inferno de Dante,
em seu canto 12, 11-15, onde, abrindo caminho entre rochedos espalhados por uma
encosta, e preparando-se para entrar no Sétimo Círculo, Dante e Virgílio, seu guia, encontraram a criatura
pela primeira vez entre aqueles que foram amaldiçoados por sua natureza
violenta, os "homens de sangue", embora seu nome não seja citado até
o verso 25. Com a lembrança provocante, feita por Virgílio, do "rei
de Atenas", o Minotauro se ergue, enfurecido, e distrai os centauros que guardam o Flegetonte, "rio de sangue",
permitindo assim que Virgílio e Dante passem rapidamente por eles. Esta
associação pouco típica do Minotauro com os centauros, que não é feita em
qualquer outra fonte clássica, é mostrada visualmente na ilustração da criatura
feita por William Blake como uma espécie de centauro taurino.
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