Vampiro é um ser mitológico ou folclórico que sobrevive
se alimentando da essência vital de criaturas vivas (geralmente sob a forma
de sangue), independentemente
de ser um morto-vivo ou uma pessoa viva.
Embora entidades vampíricas tenham sido
registradas em várias culturas, possivelmente em tempos tão recuados quanto
a pré-história, o termo vampiro apenas
se tornou popular no início do século XIX, após um influxo de superstições
vampíricas na Europa Ocidental, vindas de áreas
onde lendas sobre vampiros eram frequentes, como os Balcãs e a Europa Oriental, embora
variantes locais sejam também conhecidas por outras designações, como vrykolakas na Grécia e strigoi na Roménia. Este aumento das
superstições vampíricas na Europa levou a
uma histeria colectiva, resultando em alguns casos na perfuração de
cadáveres com estacas e acusações de vampirismo.
Embora mesmo os vampiros do folclore
balcânico e da Europa Oriental possuam um vasto leque de aparências físicas,
variando de quase humanos até corpos em avançado estado de decomposição, foi em
1819, com o sucesso do romance de John Polidori The Vampyre, que se estabeleceu
o arquétipo do vampiro carismático e sofisticado; o que pode ser considerado a
mais influente obra sobre vampiros do início do século XIX, inspirando
obras como Varney the Vampire e
eventualmente Drácula.
É, no entanto, o romance de 1897
de Bram Stoker, Drácula, que perdura como a quinta essência da literatura sobre vampiros e que
gerou a base da moderna ficção sobre o tema.
Drácula foi inspirado
em mitologias anteriores sobre lobisomens e outros
demónios lendários semelhantes e "deu voz às ansiedades de uma era" e
aos "medos do patriarcado vitoriano".
O sucesso deste livro deu
origem a um género distinto de vampiro, ainda popular no século XXI, com
livros, filmes, jogos de vídeo e programas de televisão. O vampiro é uma figura
de tal modo dominante no género de terror que a historiadora de
literatura Susan Sellers coloca o actual mito
vampírico na "segurança comparativa do fantástico [existente] nos
pesadelos"]
O termo entrou na língua portuguesa no
século XVIII por via do francês vampire,
que o tomou do alemão Vampir,
que por sua vez o tomou emprestado no início do século XVIII do sérvio вампир/vampir, quando Arnold Paole, um suposto vampiro,
foi descrito na Sérvia na época em que esse território estava incorporado no Império Austríaco. O Houaiss dá ainda como
possível origem o húngaro, além do sérvio, apresentando como formas históricas vampire (c.1784), vampiro (1815)
e vampyro (1857). Uma das primeiras ocorrências do termo
registadas na língua portuguesa surge num texto português datado de 1784, em
que é usada a forma vampire, indicando a sua proveniência directa
do francês. Em 1815
regista-se já a forma actual, vampiro.
A forma sérvia encontra paralelo em
virtualmente todas as línguas eslavas: búlgaro e macedónio вампир (vampir),croata upir /upirina, checo e eslovaco upír, polaco wąpierz,
e (talvez por influência eslavo-oriental) upiór, ucraniano упир (upyr), russo упырь (upyr'), bielorrusso упыр (upyr), do antigo eslavo oriental упирь (upir').
(Note-se que muitas destas línguas também integraram posteriormente o termo
"vampir/wampir" por influência Ocidental; essas formas são distintas
das palavras nativas originais para a criatura.) A etimologia exacta não é
clara. Entre as formas protoeslavas propostas estão *ǫpyrь e *ǫpirь. Uma outra
teoria, com menor divulgação, é a das línguas eslavas terem tomado a palavra a
partir de um termo turco para
"bruxo" o tártaro ubyr).
Acredita-se geralmente que o primeiro
uso registado do russo arcaico Упирь (Upir')
encontra-se num documento datado de 6555 (1047 AD). É um cólofon num manuscrito do Livro dos Salmos escrito por um
padre que transcreveu o livro do glagolítico para o cirílico por encomenda do Príncipe Volodymyr Yaroslavovych. O padre escreve
que o seu nome é "Upir' Likhyi " (Оупирь
Лихыи), que significa algo como "Vampiro Malvado" ou "Vampiro
Louco". Este nome
aparentemente estranho tem sido citado tanto como um exemplo do paganismo que à época
ainda persistia, assim como do uso de alcunhas como nomes próprios.
Uma outra instância da palavra em russo
arcaico ocorre no tratado antipagão "Diálogos de São Gregório", datado entre
os séculos XI e XIII, onde é registado o culto pagão de upyri.
Crenças populares
A noção de vampirismo existe há
milénios; culturas como as da Mesopotâmia, Hebraica, da Grécia Antiga, e a romana continham
lendas de demónios e espíritos que são considerados precursores dos modernos
vampiros. No entanto, apesar da ocorrência de criaturas do tipo dos vampiros
nessas civilizações antigas, o folclore da entidade que
conhecemos hoje como vampiro teve origem quase exclusivamente no sudeste da
Europa no início do século XVIII, quando as tradições orais de muitos grupos étnicos dessa região foram registados e
publicados. Em muitos casos, os vampiros são espectros de seres malignos,
vítimas de suicídio, ou bruxos, mas podem também ser criados quando um espírito maléfico possui um corpo ou quando se é mordido por um vampiro. A crença em tais
lendas penetrou tanto em algumas regiões que causou histeria colectiva e até execuções públicas de pessoas que se acreditavam serem vampiros.
Descrição e atributos comuns
É difícil fazer uma descrição única e
final do vampiro da tradição popular, embora exista uma série de elementos
comuns a muitas das lendas europeias. Os vampiros são muitas vezes descritos
como de aparência inchada, e com uma coloração rósea, púrpura ou escura; estas
características são frequentemente atribuídas a uma recente ingestão de sangue.
De facto, o sangue é muitas vezes visto perpassando da boca e nariz quando um
vampiro era visto no seu caixão ou mortalha, e o olho esquerdo
fora deixado aberto. O vampiro
estaria envolto na mortalha de linho em que havia sido enterrado, e os seus
dentes, cabelo e unhas poderiam apresentar algum crescimento, embora em geral
os dentes pontiagudos não fossem uma característica.
Geração
As causas da geração de vampiros eram
muitas e variadas nas antigas tradições populares. No folclore eslavo e chinês, qualquer corpo que
fosse acometido por um animal, em particular um cão ou gato, temia-se que se
tivesse tornado num morto-vivo. Um corpo com
uma ferida que não houvesse sido tratada com água a ferver estaria também em
risco. No folclore russo, dizia-se que os vampiros haviam sido em tempos bruxos ou pessoas que
se revoltaram contra a Igreja Ortodoxa Russa quando ainda eram vivas.
Surgiram muitas vezes práticas
culturais que tinham por objectivo impedir que o ente amado recentemente
falecido se tornasse num morto-vivo. Enterrar um corpo de cabeça para baixo era
algo muito difundido, assim como a colocação de objectos terrenos, como gadanhas ou foices, perto da cova,
com o fim de satisfazer qualquer demónio que entrasse no corpo, ou para
apaziguar os mortos por forma a que estes não quisessem levantar-se da tumba.
Este método assemelha-se à prática da Grécia Antiga de colocar uma
moeda na boca dos corpos, para pagar o frete da barca de Caronte na travessia
do Estige, no submundo; foi
argumentado que a moeda não teria essa finalidade, mas a de colocar em guarda
qualquer espírito maléfico que tentasse entrar no corpo, e isto pode ter
influenciado tradições vampíricas mais tardias. Esta tradição persistiu no
folclore grego moderno dos vrykolakas, no qual uma
cruz de cera e um caco de barro com a inscrição "Jesus Cristo conquista"
eram colocados no corpo por forma a prevenir que este se tornasse num vampiro. Outros métodos
comummente praticados na Europa incluíam cortar os tendões das pernas ou
colocar sementes de papoila, milhetes, ou areia no chão perto da cova de um suposto vampiro; isto
destinava-se a manter o vampiro ocupado toda a noite contando os grãos, indicando uma
associação entre vampirismo e aritmomania. Narrativas chinesas
semelhantes referem que se um ser vampírico encontra um saco de arroz, sente-se obrigado a
contar todos os grãos; este tema pode ser encontrado igualmente nos mitos do
subcontinente indiano, assim como nas lendas da América do Sul de bruxaria e
outra espécie de espíritos ou seres malignos ou nefastos.
No folclore albanês, o dhampir é o filho
do karkanxholl ou lugat. Se o karkanxholl dorme
com a sua mulher, e esta fica prenhe, a geração é chamadadhampir e
possui a qualidade única de poder identificar o karkanxholl; daqui
deriva a expressão o dhampir conhece o lugat. O lugat não
é visível, e pode apenas ser morto pelo dhampir, o qual ele próprio
é habitualmente filho de um lugat. Em diversas regiões, animais
podem voltar a este mundo como lugats; e, do mesmo modo, pessoas
vivas durante o sono. Dhampiraj é também um sobrenome albanês.
Identificação
Foram usados muitos rituais elaborados
por forma a se conseguir identificar um vampiro. Um dos métodos de encontrar o
túmulo de um vampiro envolvia levar um rapaz virgem através de um cemitério ou
chão de igreja, montado num garanhão virgem - o cavalo supostamente vacilaria
no túmulo em questão. Geralmente era
necessário um cavalo preto, embora na Albânia este devia ser branco. O aparecimento
de buracos na terra que cobrisse um túmulo era visto como um sinal de
vampirismo.
Corpos que se pensavam serem de
vampiros eram geralmente descritos como tendo uma aparência mais saudável que o
esperado, roliços e mostrando poucos ou nenhuns sinais de decomposição. E alguns casos,
quando túmulos suspeitos eram abertos, os habitantes locais chegaram a
descrever o corpo como tendo o sangue fresco de uma vítima espalhado por toda a
cara. Os sinais de
que um vampiro estava activo numa dada localidade incluíam a morte de gado,
ovelhas, parentes ou vizinhos. Os vampiros da tradição popular podiam também
fazer sentir a sua presença servindo-se em pequena escala de actividades do
tipo poltergeist, tal como atirar pedras aos telhados ou mover objectos do interior das
habitações, e exercendo pressão sobre pessoas
durante o sono.
Proteção
Apotropia
Itens com qualidades apotropaicas, capazes de afastar
as almas do outro mundo, são comuns no folclore vampírico. O alho é um exemplo
comum, e ramos
de roseira silvestre e pilriteiro têm fama de
poder ferir vampiros, e na Europa diz-se que espalhar sementes de mostarda no telhado das casas consegue afasta-los. Outros
apotropaicos incluem itens sagrados, como crucifixos, rosários, ou água benta. Diz-se que os
vampiros não conseguem pisar chão sagrado, tal como o das
igrejas e templos, ou atravessar água corrente. Embora não
sejam habitualmente vistos como apotropaicos, os espelhos têm sido usados
para afastar vampiros quando colocados em portas, virados para o exterior. Em
algumas culturas, os vampiros não possuem reflexo e por vezes não produzem
sombra, possivelmente como manifestação da ausência de alma no vampiro. Este atributo,
embora não universal (os vrykolakas/tympanios gregos são capazes de
gerar tanto reflexo como sombra), foi usado por Bram Stoker em Drácula e
permaneceu popular em autores e realizadores de cinema posteriores. Algumas
tradições asseguram também que um vampiro não consegue entrar numa casa a menos
que seja convidado pelo seu proprietário, embora após o primeiro convite possa
entrar e sair sempre que lhes apeteça. Não obstante os
vampiros da tradição popular sejam tidos como mais activos à noite, não são
geralmente considerados vulneráveis à luz solar.
Métodos de destruição
Os métodos de destruição de supostos
vampiros variam, sendo o empalamento o método mais
comummente citado, em particular nas culturas eslavas meridionais. O freixo é a madeira
preferida na Rússia e estados bálticos para a confecção da estaca, ou o pilriteiro na Sérvia, havendo um
registo de ter sido usado carvalho na Silésia para o mesmo
efeito. Vampiros em
potencial são muitas vezes perfurados com estacas através do coração, embora na
Russia e Alemanha setentrional o alvo fosse a boca, e no nordeste
da Sérvia o estômago. A perfuração da
pele do peito era um método usado para "esvaziar" o vampiro inchado;
isto apresenta semelhanças com o hábito de enterrar objetos afiados, como foices, junto com os
corpos, de modo a penetrarem a pele se o corpo inchasse o suficiente durante a
transformação em morto-vivo. A decapitação era o método
preferido na Alemanha e regiões eslavas ocidentais, sendo a cabeça enterrada
entre os pés, detrás das nádegas ou sobre o
corpo. Este ato era
visto como um modo de apressar a partida da alma, que se acredita em algumas
culturas que ronde o corpo durante algum tempo após a morte. A cabeça, corpo e
roupas do vampiro podem também ser perfurados e pregados à terra por forma a
evitar que se levantem. Os povo cigano enfia agulhas
de aço ou ferro no coração do corpo e coloca pedaços de aço na boca, sobre os
olhos, orelhas, e entre os dedos na ocasião do funeral. Também colocam
pilriteiro na mortalha ou enfiam uma estaca de pilriteiro através das pernas.
Num enterro datado do século XVI perto de Veneza, um tijolo forçado
pela boca de um corpo feminino foi interpretado como um ritual destinado a
matar vampiros pelos arqueólogos que o descobriram em 2006. Outros métodos
incluíam derramar água a ferver sobre a campa ou a incineração total do corpo.
Nos Balcãs, um vampiro pode ainda ser morto a tiro ou afogado, repetindo as exéquias, salpicando água benta sobre o corpo,
ou através de um exorcismo. Na Roménia pode ser colocado alho na boca, e em tempos tão recentes
como o século XIX uma bala era disparada através do caixão como medida de
precaução. Em caso de resistência, o corpo era desmembrado e as partes
queimadas, misturadas com água, e dadas a beber aos familiares como cura. Nas
regiões saxónicas da Alemanha, um limão era colocado na
boca de corpos suspeitos de serem vampiros.
Crenças antigas
Lendas sobre seres sobrenaturais que se
alimentam do sangue ou carne dos vivos têm sido encontradas em praticamente
todas as culturas à volta do mundo desde há muitos séculos. Hoje em dia
associaríamos essas entidades a vampiros, mas na antiguidade esse termo não
existia; o consumo de sangue e outras atividades semelhantes eram atribuídos
a demónios ou espíritos comedores de carne e bebedores de sangue; mesmo o Diaboera considerado como
um sinónimo de vampiro. Quase todas as
nações têm associado o acto de beber sangue com algum tipo de alma de outro
mundo ou demónio, ou em alguns casos uma divindade. Na Índia, por exemplo, lendas
de vetālas, seres semelhantes a espíritos
malignos que habitam os corpos, foram compilados no Baitāl Pacīsī; um importante conto
do Kathāsaritsāgara versa sobre o
rei Vikramāditya e as suas
expedições noturnas para capturar um destes seres especialmente esquivo. Piśāca, os espíritos de
quem fez o mal ou morreu louco, retornados à terra, também possuem atributos
vampíricos.
Os persas foram uma das
primeiras civilizações onde se registam lendas de demonios bebedores de sangue:
criaturas tentando beber sangue humano estão representadas em cacos de olaria desenterrados. Na Antiga Babilónia e na Assíria existiam lendas
sobre a mítica Lilitu, sinónimo e
origem de Lilith e as suas filhas, as Lilu, da demonologia hebraica. Lilitu era considerada um demónio e muitas vezes
representada alimentando-se do sangue de bebés. Dizia-se que
as Estrias, demónios bebedores
de sangue e de forma feminina mutável, deambulavam à noite por entre a
população, em busca de vítimas. De acordo com o Sefer Hasidim, as Estrias eram
criaturas geradas nas horas de crepúsculo que precederam o descanso de Deus. Uma Estria
ferida podia ser curada ao comer pão e sal dados pelo seu atacante.
As antigas mitologias grega e romana descrevem
as Empusas, Lâmias, e estirges. Ao longo dos
tempos, os dois primeiros termos foram usados genericamente para descrever
bruxas e demónios, respectivamente. Empusa era filha da deusa Hécate e descrita como uma criatura demoníaca com pés de bronze, que se banqueteava
em sangue transformando-se numa jovem mulher e seduzindo homens durante o sono
antes de lhes beber o sangue. As Lâmias
depredavam crianças pequenas nas suas camas durante a noite, bebendo-lhes o
sangue, tal como faziam as gelloudes ou Gello. Tal como as
Lâmias, as estirges banqueteavam-se com crianças, mas também
depredavam jovens rapazes. Eram descritas como tendo corpo de corvo, ou
genericamente de pássaro, e foram mais tarde incorporadas na mitologia romana
como strix, um tipo de pássaro nocturno que se alimentava de carne e
sangue humanos.
Folclore europeu medieval e posterior
Muitos dos mitos que rodeiam os
vampiros tiveram origem durante a Idade Média. No século XII os
historiadores e cronistas ingleses Walter Map e William de Newburgh registaram
episódios de mortos-vivos, embora sejam
raros os registos de seres vampíricos nas lendas inglesas após esta data. O norueguês arcaico draugré outro exemplo de uma criatura
morta-viva com semelhanças aos vampiros.
Os vampiros propriamente ditos surgem
com a grande divulgação do folclore da Europa Oriental no final do século XVII
e início do século XVIII. Estas lendas formam a base da tradição vampírica que
mais tarde penetrou na Alemanha e Inglaterra, onde foi posteriormente
acrescentada e popularizada. Um dos primeiros registos de actividade vampírica
ocorreu na região da Ístria, na actual Croácia, em 1672. Os registos
locais referem o vampiro Giure Grando que habitava
nessa região, na aldeia de Khring, perto de Tinjan, como causa de pânico entre os
aldeões. Giure, que fora
camponês, morreu em1656, mas os aldeões locais afirmavam que retornara dos mortos e começara a
beber o sangue das pessoas, e a assediar sexualmente a sua viúva. O chefe da
aldeia ordenou que uma estaca fosse enterrada no seu coração, mas quando este
método não se revelou suficiente para mata-lo, usaram a decapitação com
melhores resultados.
Durante o século XVIII houve um
frenesim de avistamentos de vampiros na Europa Oriental, sendo frequentes os
estacamentos e escavações de sepulturas com o fim de identificar e matar
mortos-vivos em potencial; até mesmo funcionários do governo envolveram-se na
caça e estacamento de vampiros. Apesar de
vulgarmente chamado de Iluminismo, durante o qual muitas lendas e mitos populares foram debelados, a
crença em vampiros cresceu dramaticamente nesta época, resultando numa histeria
colectiva que afectou a maioria da Europa. O pânico teve
início num surto de alegados ataques de vampiros na Prússia Oriental em 1721 e na Monarquia de Habsburgo de 1725 a 1734, que se propagou a
outras localidades. Dois casos famosos de vampirismo, os primeiros a serem
oficialmente registados, envolveram os corpos de Pedro Plogojowitz e Arnold Paole, da Sérvia. Plogojowitz era
tido como tendo morrido aos 62 anos, mas alegadamente voltou depois de morto
para pedir comida ao filho. Quando o filho recusou, foi encontrado morto no dia
seguinte. Plogojowitz supostamente voltou e atacou alguns vizinhos, os quais
morreram por perda de sangue. No segundo
caso, Paole, um antigo soldado tornado camponês, o qual alegadamente fora
atacado por um vampiro alguns anos antes, morreu na ceifa do feno. Após a sua morte
começaram a morrer pessoas das redondezas, e acreditava-se largamente que Paole
tinha retornado dos mortos para depredar os antigos vizinhos. Outra lenda
sérvia famosa que envolvia vampiros girava em torno de um certo Sava Savanović que vivia numa Azenha, matando os moleiros
e bebendo o seu sangue. Este personagem foi mais tarde usado num conto escrito
pelo escritor sérvio Milovan Glišić, e no filme de terror sérvio de
1973 Leptirica, inspirado por essa
história.
Ambos os incidentes estão bem
documentados: funcionários do governo examinaram os corpos, escreveram
relatórios oficiais, e publicaram livros divulgados por toda a Europa. A histeria,
comummente referida como a "Controvérsia Vampírica do Século XVIII",
causou furor durante uma geração. A questão foi exacerbada por epidemias rurais
de alegados ataques vampíricos, sem dúvida causados pelo alto grau de
superstição presente nas comunidades aldeãs, com habitantes locais
desenterrando corpos e, em alguns casos, penetrando-os com estacas. Embora
muitos estudiosos afirmassem nesta época que os vampiros não existiam, e
atribuíssem estes registos a enterros prematuros ou raiva, a superstição recrudesceu. Dom Augustine Calmet, um respeitado teólogo e estudioso
francês, coligiu um exaustivo tratado em 1746, o qual era ambíguo
no que respeitava à existência de vampiros. Calmet juntou uma série de registos
de incidentes vampíricos; numerosos leitores, incluindo tanto um crítico Voltaire como vários demonologistas, que o apoiavam,
interpretaram o tratado como postulando a existência de vampiros. No seu Dicionário
Filosófico, Voltaire escreveu:
Esses
vampiros eram cadáveres, que à noite saíam das suas campas para sugar o
sangue dos vivos, tanto pela garganta como pelo estômago, após o que
retornavam aos seus cemitérios. As pessoas que assim eram sugadas definhavam,
empalideciam, econsumiam-se; por outro lado os cadáveres sugadores
tornavam-se gordos, rosados, e exibiam um excelente apetite. E foi na Polónia, Hungria, Silésia, Morávia, Áustria, e Lorena, que os mortos andaram
pregando estas partidas.
|
A controvérsia apenas teve fim quando a
Imperatriz Maria Teresa da Áustria enviou o seu médico
particular, Gerard van Swieten, com o objectivo de investigar as alegações sobre
entidades vampíricas. Este concluiu que os vampiros não existiam, e a
Imperatriz fez passar leis proibindo a abertura de campas e a profanação de
cadáveres, anunciando o final das epidemias vampíricas. Apesar desta
condenação, o vampiro sobreviveu em trabalhos artísticos e nas superstições
locais
Era moderna
Apesar da descrença geral em entidades
vampíricas, têm sido registados avistamentos ocasionais de vampiros. De facto,
ainda existem associações dedicadas à caça ao vampiro, embora tenham sido
formadas largamente por motivos sociais.
No início de 1970, a imprensa local
propagou rumores sobre um vampiro que assombrava o cemitério londrino de Highgate. Caçadores de vampiros amadores afluíram em largos números ao
cemitério, e foram escritos muitos livros sobre o caso, notavelmente por Sean
Manchester, um habitante local que esteve entre os primeiros a sugerir a
existência do "Vampiro de Highgate", e que mais
tarde afirmou ter exorcizado e destruído todo um ninho de vampiros naquela área. Em Janeiro de
2005 circularam rumores sobre um atacante que teria mordido uma série de
pessoas em Birmingham, na Inglaterra, alimentando receios sobre um vampiro a vaguear pelas ruas. No entanto,
a polícia local afirmou que tais crimes nunca foram reportados, e que o caso
parece não ser mais que uma lenda urbana.
No Outono de 1977 foi registado
em Belém do Pará, no Brasil, o que foi descrito como uma estranha praga de vampirismo, envolvendo
um "vampiro luminoso" que teria ocasionado a morte de algumas pessoas
por perda de sangue, e ferimentos em várias outras.
Um dos mais notáveis casos de entidades
vampíricas da era moderna, o chupacabra de Porto Rico e do México, é descrito como
sendo uma criatura que se alimenta da carne e bebe o sangue de animais domésticos, levando a que alguns o considerem um tipo de
vampiro. A "histeria do chupacabra" tem sido frequentemente associada
a profundas crises económicas e políticas, em particular em meados dos anos
1990.
Em Moçambique, na região de Quelimane, alegados incidentes
de vampirismo têm levado a que parte da população saia das suas casas e passe a
noite em edifícios públicos por medo dos "chupadores de sangue". Em
1996 a Rádio Moçambique noticiou o estranho caso de um cadáver que
levantou-se do túmulo e percorreu as ruas de Nampula, após o que se
encontraram vários cadáveres sangrados de pessoas e animais.
Alegações de ataques de vampiros
varreram o país africano do Malawi em finais de
2002 e inícios de 2003, com multidões apedrejando um indivíduo até à morte e
atacando pelo menos outros quatro, incluindo o Governador Eric Chiwaya, baseados na crença
que o governo estava em conluio com vampiros.
Na Europa, onde muito do folclore
vampírico teve origem, o vampiro é considerado como um ser fictício, embora
muitas comunidades tenham acolhido e acarinhado a criatura por motivos
económicos. Em alguns casos, especialmente em pequenas localidades, a
superstições sobre vampiros ainda estão bem enraizadas, e avistamentos e relatos
sobre ataques de vampiros ocorrem frequentemente. Na Roménia, em Fevereiro de
2004, muitos parentes de Toma Petre recearam que este se tivesse tornado num
vampiro, e desenterraram o seu corpo, extraíram o coração, queimaram-no e
misturaram as cinzas com água para que as pudessem beber.
Em 2006, um professor de física
da universidade da Flórida Central escreveu um
artigo argumentando a impossibilidade matemática da existência de vampiros,
baseado na progressão geométrica. De acordo com o artigo, se o primeiro vampiro
tivesse aparecido a 1 de Janeiro de 1600, e se tivesse alimentado uma vez por
mês (que é menos que o que é representado no cinema e no folclore), e se todas
as vítimas se tornassem vampiros, em cerca de dois anos e meio toda a população
humana existente à época ter-se-ia tornado vampira. O artigo não
faz qualquer tentativa de resolver a questão da credibilidade do pressuposto
que toda a vítima de um vampiro se transforma noutro vampiro.
O vampirismo e o estilo de vida vampírico representam
também uma parte relevante dos movimentos ocultistas actuais. O mito
do vampiro, as suas qualidades magicas e sedutoras, e o arquétipo de
predador, expressam um forte simbolismo que pode ser usado em técnicas que
envolvam uso de ritual e de energia, e em magica, podendo mesmo ser adoptada como sistema
espiritual. vampiro há
séculos que faz parte da sociedade ocultista europeia, e também se difundiu na
subcultura americana há já mais de uma década, com forte influência e mistura
das estéticas neogóticas.
Nome colectivo
'Coven' ('Conciliábulo')
tem sido usado como nome colectivo para vampiros,
possivelmente devido ao uso do mesmo tempo na subcultura Wicca. Um nome colectivo
alternativo é 'casa' de vampiros. David Malki,
autor de Wondermark, sugere em Wondermark #566 o uso do
nome colectivo 'cave' , como em
"uma cave de vampiros."
Origens das crenças vampíricas
Têm sido sugeridas muitas teorias sobre
as origens das crenças em vampiros, tentando explicar a superstição - e por
vezes histeria colectiva - causada por vampiros. As hipóteses
explicativas variam desde enterramentos prematuros até à
ignorância inicial sobre o ciclo de decomposição após a morte.
Espiritualismo eslavo
Embora muitas culturas possuam superstições sobre
mortos-vivos comparáveis ao vampiro da Europa de Leste, o vampiro da mitologia eslava é o que tem
prevalecido no conceito de vampiro da cultura popular. As raízes das
crenças vampíricas presentes na cultura eslava baseiam-se em grande medida nas
crenças e práticas espirituais dos povos eslavos existentes
antes da sua cristianização, e no seu entendimento da vida após a morte. Apesar da falta de
registos protoeslavos pré-cristianismo que descrevam os detalhes da "Antiga
Religião", muitas crenças espirituais e rituais pagãos foram mantidos
pelos povos eslavos mesmo após a cristianização das suas terras. exemplos dessas
crenças incluem o culto dos mortos, espíritos domésticos, e crenças sobre
a alma após a morte.
As origens das crenças vampíricas nas regiões eslavas podem ser traçadas até à
complexa estrutura da espiritualidade eslava.
Os demónios e espíritos serviam funções
importantes nas sociedades eslavas pré-industriais, e eram considerados
como sendo muito intervenientes nas vidas e domínios dos humanos. Alguns
espíritos eram benevolentes e podiam ajudar nas tarefas humanas, outros eram
daninhos e muitas vezes destrutivos. Domovoi, Rusalka, Vila, Kikimora,Poludnitsa, e Vodyanoy são exemplos dessas entidades.
Estes espíritos eram considerados como tendo derivado de antepassados ou determinados
humanos já falecidos, e podiam aparecer segundo a sua vontade sob várias
formas, incluindo de diferentes animais ou sob a forma humana. Alguns destes
espíritos podiam ainda participar em actividades malévolas, por forma a
prejudicar os humanos, tais como afogando-os, impedindo as colheitas, ou
sugando o sangue do gado e por vezes até dos próprios humanos. Desse modo, os
eslavos eram obrigados a apaziguar esses espíritos, por forma a prevenir que
usassem o seu potencial para comportamentos erráticos e destrutivos.
As crenças eslavas comuns denotam uma
forte distinção entre alma e corpo. A alma não é considerada como perecível. Os
eslavos acreditavam que após a morte, a alma viajaria para fora do corpo, e
vaguearia pelas vizinhanças e pelo antigo local de trabalho do defunto durante
quarenta dias antes da passagem final para a vida eterna. Por este motivo
era considerado necessário deixar aberta uma janela ou porta da casa, de modo a
que a alma pudesse entrar e sair a seu bel-prazer. Durante este tempo
acreditava-se que a alma tinha a capacidade de reentrar no corpo do defunto.
Tal como os espíritos atrás mencionados, a alma passageira tanto podia abençoar
como causar destroço entre a sua família e vizinhos durante os quarenta dias
que duravam a passagem. Após a morte do indivíduo, era feito um esforço
considerável na correcta execução dos ritos fúnebres por forma a
assegurar a pureza e pacificação da alma durante a sua separação do corpo. A
morte de uma criança não baptizada, uma morte violenta ou apressada, ou a morte
de um grande pecador (como um feiticeiro ou pecador), tudo isso eram motivos
para causar impureza à alma após a morte. A alma podia ainda tornar-se impura
se ao seu corpo não fosse dado um enterramento apropriado. Alternativamente, um
corpo sem um funeral apropriado poderia tornar-se susceptível à possessão por
parte de outras almas e espíritos impuros. Os eslavos temiam estas almas
impuras devido ao seu potencial para exercer vinganças.
Destas crenças profundamente arreigadas
sobre a morte e alma deriva a invenção do conceito eslavo do vampir.
O vampiro era a manifestação de um espírito impuro em possessão de
um corpo em decomposição. esta criatura morta-viva era considerada como
vingativa e ciumenta em relação aos vivos, e sedenta do sangue dos vivos,
essencial para suportar a sua existência corporal. Embora este
conceito de vampiro exista em formas algo diversas pelos países eslavos e alguns dos
seus vizinhos não eslavos, é possível traçar o desenvolvimento da crença em
vampiros ao espiritualismo eslavo que antecedeu a cristianização das regiões
eslavas.
Patologia
Decomposição
Paul Barber no seu livro Vampires,
Burial and Death argumentou que a crença em vampiros resultava da
tentativa por parte das sociedades pré-industriais em explicar o
processo de decomposição que, embora
sendo algo natural, era para eles inexplicável.
Por vezes o povo suspeitava de
vampirismo quando um cadáver não se parecia com a ideia que tinham do aspecto
que deveria ter um corpo desenterrado. No entanto, as taxas de decomposição
variam de acordo com a temperatura e composição do solo, e muitos dos sinais de
decomposição são pouco conhecidos. Isto levou caçadores de vampiros a concluir
erradamente que um corpo não havia sofrido qualquer decomposição ou,
ironicamente, a interpretar sinais de decomposição como sinais de vida após a
morte. Os cadáveres
incham à medida que os gases resultantes da decomposição se acumulam no torso,
e o aumento de pressão força o sangue a derramar-se pela boca e nariz. Isto faz
com que o corpo pareça "roliço", "bem alimentado", e
"rosado" — alterações que são ainda mais evidentes caso o defunto
fosse magro ou pálido em vida. No caso de Arnold Paole, o corpo exumado de
uma mulher idosa foi julgado pelos seus vizinhos como mais roliço e saudável
que o que ela alguma vez fora em vida. O sangue
perpassando do corpo dava a impressão do corpo ter estado envolvido
recentemente em actividade vampírica. O escurecimento
da pele era, do mesmo modo, resultado da decomposição. O estacamento
de um corpo inchado e em decomposição causaria o sangramento do corpo, e
forçaria o escape dos gases acumulados, o qual poderia causar um som semelhante
a um gemido à medida que os gases se moviam através das cordas vocais, ou um som
semelhante à flatulência quando passassem pelo ânus. Os registos oficiais do caso de Pedro Plogojowitz referem
"outros sons selvagens que não mencionarei por certos respeitos".
Após a morte a pele e gengivas perdem
fluidos e contraem-se, expondo as raízes do cabelo, as unhas, dentes, e mesmo
dentes que até então estavam ocultos na mandíbula. Isto pode produzir a ilusão
do cabelo, unhas e dentes terem crescido após a morte. Num certo ponto, as
unhas caem e a pele escama, tal como registado no caso Plogojowitz — a derme e as partes
inferiores das unhas emergindo foram interpretadas como "nova pele" e
"novas unhas".
Enterramento prematuro
Foi também sugerido que as lendas sobre
vampiros possam ter sido influenciadas por indivíduos que foram enterrados vivos devido às
deficiências do conhecimento médico da época. Em alguns casos em que foram
reportados sons que emanavam de um caixão em particular, este foi mais tarde
desenterrado e foram descobertas marcas de unhas no interior, causadas pela
vítima tentando escapar. Noutros casos a pessoa bateria com a cabeça, nariz ou
face contra o caixão, e os ferimentos causados dariam a impressão de que teria
estado a se "alimentar." um problema
desta teoria é a questão de como alguém supostamente enterrado vivo conseguia
manter-se vivo por um período de tempo alargado sem comida, água e ar fresco.
Uma explicação alternativa para os ruídos é o barulho causado pelos gases ao
escaparem durante a decomposição natural dos corpos. Outra causa
provável de serem encontradas campas em desordem são os ladrões de túmulos.
Contágio
O vampirismo da tradição popular tem
sido associado a grupos de mortes causadas por doenças misteriosas ou não
identificadas, habitualmente dentro da mesma família, ou pequena comunidade. A referência
epidémica é óbvia em casos clássicos como o de Pedro Plogojowitz e Arnold Paole, e mais ainda no
caso de Mercy Brown e de modo geral
nas crenças vampíricas da Nova Inglaterra, onde uma doença em particular,
a tuberculose, estava associada aos surtos de vampirismo. Tal como na forma
pneumónica da peste bubónica, esta doença estava
associada ao rompimento do tecido pulmonar, causando o aparecimento de sangue
nos lábios.
Porfiria
Em 1985 o bioquímico David Dolphin propôs uma
ligação entre um raro distúrbio sanguíneo conhecido como porfiria e o folclore
vampírico. Reparando que essa condição é tratada com hemo intravenoso,
Dolphin sugeriu que o consumo de grandes quantidades de sangue poderia resultar
de alguma maneira no transporte do hemo através da parede do estômago e para a
corrente sanguínea. Desta maneira, os vampiros eram meros indivíduos sofredores
de porfiria que procuravam substituir o hemo e aliviar os sintomas Esta teoria tem
sido desmontada pelo meio médico, uma vez que as sugestões sobre os afectados
por porfiria desejarem a ingestão do hemo no sangue humano, ou que o consumo de
sangue possa atenuar os sintomas da doença, são baseados numa compreensão
errada da doença. Adicionalmente, constatou-se que Dolphin confundira os
vampiros fictícios (sugadores de sangue) com os do folclore, muitos dos quais
não eram conhecidos por beberem sangue. Do mesmo modo,
foi estabelecido um paralelo com a sensibilidade à luz do Sol por parte dos
afectados por porfiria, quando esta condição está associada aos vampiros
fictícios, e não aos da tradição popular. Em todo o caso, Dolphin não chegou a
dar mais divulgação aos seus trabalhos.Embora tenha
sido posto de parte pelos peritos, a ligação entre vampirismo e porfiria
conseguiu a atenção dos média. e entrou ela
própria no folclore da moderna cultura pop.
Raiva
A raiva tem sido
associada ao folclore vampírico. O Dr Juan Gómez-Alonso, neurologista no
Hospital Xeral em Vigo, Espanha, examinou
esta possibilidade num relatório publicado no periódico Neurology A
susceptibilidade a alho e à luz pode resultar da hipersensibilidade, um dos
sintomas da raiva. A doença pode também afectar partes do cérebro, causando um
distúrbio nos padrões normais do sono (e assim um comportamento nocturno) e hipersexualidade. Lendas antigas
diziam que um homem não tinha raiva se conseguisse olhar para o seu próprio
reflexo - uma alusão à lenda sobre vampiros não terem reflexo. Lobos e
morcegos, que são muitas vezes associados a vampiros, podem ser portadores de
raiva. A doença pode também levar a um desejo de morder os outros e a espumar
sangue da boca.
Psicopatologia
Alguns criminosos têm efectuado
aparentes rituais vampíricos sobre as suas vítimas. Os assassinos em série Peter Kürten e Richard Trenton Chase foram ambos
apelidados de "vampiros" pela imprensa de tabloide após ter sido
descoberto que bebiam o sangue das pessoas que assassinavam. Do mesmo modo, em
1932, um caso de crime não resolvido em Estocolmo, Suécia, foi alcunhado de
"Crime vampírico", devido Às
circunstâncias em que a vítima morreu. Elizabeth Báthory, condessa húngara e assassina em
série dos finais do século XVI, tornou-se particularmente famosa em obras de
séculos posteriores, que a representavam banhando-se no sangue das suas vítimas
por forma a conseguir reter a beleza ou juventude.
Subculturas vampíricas modernas
O estilo de vida vampírico é um termo
usado para definir uma subcultura contemporânea,
largamente inserida na subcultura Gótica, na qual se consome o sangue dos outros como
passatempo; inspirada pela fértil história recente da cultura popular
relacionada ao simbolismo dos cultos, aos filmes de terror, às obras de ficção
de Anne Rice, e aos estilos da Inglaterra vitoriana. Manifestações
activas de vampirismo real dentro das subculturas vampíricas incluem tanto vampirismo
relacionado com sangue, geralmente referido como vampirismo sanguíneo,
e vampirismo psíquico, ou o suposto acto de se alimentar
de energia pranica.
Morcegos-vampiros
Embora muitas culturas tenham lendas
sobre os morcegos-vampiros, apenas recentemente estes se tornaram parte
integrante das tradições populares sobre vampiros, quando foram descobertos
na América do Sul continental no século XVI. Embora não
existam morcegos vampiros na Europa, os morcegos nocturnos e corujas há muito que
são associados com presságios e o sobrenatural, embora isso se deva
fundamentalmente aos seus hábitos nocturnos, e na
tradição heráldica inglesa moderna o morcego significa "estar ciente dos poderes
das trevas e do caos".
Todas as três espécies de verdadeiros
morcegos-vampiros são endémicas da América Latina, e não há nenhuma
evidência que sugira que alguma vez tenham tido parentes no Velho Mundo tanto quanto a
memória humana conseguiu registar. Por este motivo é impossível que que o
vampiro da tradição popular represente uma versão distorcida ou memória
longínqua do morcego-vampiro. Estes morcegos foram nomeados deste modo devido
ao vampiro folclórico, e não o inverso; o Oxford English Dictionary regista
a sua presença na tradição popular em Inglaterra a partir de 1734, muito antes
da presença zoológica, que apenas ocorreu em 1774. Embora a dentada do
morcego-vampiro não seja geralmente perigosa para o ser humano, estes morcegos
têm sido conhecidos por se alimentarem activamente de sangue humano, e presas
de grande porte como gado, deixando muitas vezes a sua imagem de marca na pele
da vítima, a marca de dentada de dois dentes afiados.
Um artigo sobre vampiros datado de 1842
e publicado no semanário português Archivo Popular estabelece
um paralelo entre o vampiro da tradição eslava e as lendas sobre ataques de
morcegos-vampiros na América meridional - que seriam em grande quantidade,
chegando a ser fatais - divulgadas por Pedro Mártir, La Condamine e outros, considerando ambas
invenções fantasiosas e dignas de pouco crédito.
O Drácula da literatura
transforma-se em morcego muitas vezes no romance, e os próprios morcegos-vampiros
são aí mencionados por duas vezes. A produção teatral de 1927 Dracula seguiu
os passos do romance ao representar a transformação de Drácula em morcego,
assim como o filme do mesmo nome, onde Béla Lugosi também se
transforma em morcego. A cena da
transformação em morcego seria novamente usada por Lon Chaney Jr. no filme de
1943 Son of Dracula
O vampiro tem hoje lugar cativo na
ficção popular. Esta ficção teve início na poesia do século XVIII, continuando
depois nos contos do século XIX o primeiro e mais influente dos quais foi The Vampyre (1819),
de John Polidori, apresentando o vampiro Lord Ruthven. As façanhas de Lord
Ruthven foram continuadas numa série de peças de teatro sobre vampiros, nas
quais era o anti-herói. O tema do vampiro continuou uma série de publicações literárias de
terror conhecidas por penny dreadful, como Varney the Vampire (1847),
culminando com o romance de vampiros mais proeminente de sempre:Drácula de Bram Stoker, publicado em 1897. Na ficção
moderna, o vampiro tende a ser representado como um vilão delicado e
carismático. Ao longo do
tempo, alguns atributos hoje vistos como parte integrante do vampiro, foram
sendo incorporados no seu perfil: os dentes pontiagudos e a vulnerabilidade à
luz solar surgiram durante o século XIX, com Varney o Vampiro e o Conde Drácula apresentando
ambos dentes proeminentes, e Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens (1922),
de Murnau, temendo a luz do dia. A capa surgiu
em produções teatrais dos anos 1920, acrescentada de uma gola alta pelo
dramaturgo Hamilton Deane por forma a
ajudar Drácula a 'desaparecer' em cena. Lord Ruthven e
Varney eram capazes de curar-se usando o luar, embora não exista qualquer
menção a essa característica nas tradições populares sobre vampiros. A imortalidade, implícita embora
não explicitamente documentada no folclore vampírico, é uma característica com
forte presença no cinema e literatura sobre vampiros, com constantes alusões ao
preço da vida eterna, nomeadamente a necessidade incessante pelo sangue
daqueles de quem já foi um igual.
Literatura
O vampiro ou morto-vivo fez a sua primeira
aparição no campo da literatura em poemas como The Vampire(1748)
de Heinrich August Ossenfelder, e Lenore (1773) de Gottfried August Bürger, Die Braut
von Corinth(A Noiva de Corinto (1797) de Johann Wolfgang von Goethe, no inacabado poema
de Samuel Taylor Coleridge, Christabel e em The Giaour (1813) de Lord Byron. Byron foi ainda
creditado como responsável pela primeira peça de ficção em prosa sobre
vampiros, The Vampyre (1819), embora
esta tenha sido escrita na realidade pelo médico pessoal de Byron, John Polidori, que adaptou um uma
história enigmática e fragmentária que lhe foi contada pelo seu ilustre
paciente. A própria
personalidade dominante de Byron, temperada pela sua amante Lady Caroline Lamb no pouco elogioso roman-a-clef,Glenarvon (um
fantasia gótica baseada na vida desregrada de Byron), foi usada como modelo
para o morto-vivo protagonista do romance de Polidori, Lord Ruthven. The Vampyre foi
um grande sucesso, e a obra sobre vampiros mais influente do início do século
XIX.
Varney the Vampire de James Malcolm Rymer (também
atribuído a Thomas Preskett Prest) constituiu-se como
um marco na literatura gótica de terror de meados da era vitoriana, surgindo
inicialmente entre 1845 e 1847 numa série de panfletos geralmente referidos
como penny dreadfuls, devido ao baixo
preço e ao conteúdo tipicamente macabro, sendo publicado como livro em
1847. Varney the Vampire segue um claro estilo de suspense, usando uma intensa
imagística para descrever as horrendas façanhas de Varney. A história
de lesbianismo vampírico de Sheridan Le Fanu, Carmilla (1871), foi
outra importante contribuição para o género. Tal como Varney antes dela, a
vampira Carmilla é retratada de um modo algo compreensivo quando a compulsão
inerente à sua condição é abordada.
Nenhuma tentativa de representação de
vampiros na ficção popular foi tão influente ou tão definitiva como o
romance Drácula de Bram Stoker (1897).O retrato que faz do
vampirismo enquanto doença de possessão demoníaca contagiosa, com os seus
matizes de sexo, sangue e morte, sensibilizou a Europa vitoriana onde a tuberculose e a sífilis eram comuns. As
características vampíricas descritas na obra de Stoker fundiram-se a tradição
popular e dominaram-na, acabando por evoluir para o vampiro da ficção moderna.
Inspirado em trabalhos anteriores como The Vampyre e
"Carmilla", Stoker começou a pesquisa para o seu novo livro em finais
do século XIX, lendo obras como The Land Beyond the Forest (1888)
de Emily Gerard e outros livros
sobre a Transilvânia e vampiros. Em Londres um colega referiu-lhe a história de Vlad Ţepeş, o "Drácula da
vida real", e Stoker imediatamente incorporou essa história no seu livro.
O primeiro capítulo do livro foi omitido quando este foi publicado em 1897,
editado em 1914 como Dracula's Guest.
Um dos primeiros romances
"científicos" sobre vampiros foi I Am Legend (1954), de Richard Matheson, usado depois como
base para os filmes The Last Man on Earth em 1964, The Omega Man em 1971,
e Eu Sou a Lenda em 2007.
O século XXI trouxe mais exemplos de
ficção vampírica, como a série Black Dagger Brotherhood, de J.R. Ward, e outros livros de vampiros de grande
popularidade e apelando ao público adolescente e jovem adulto. Estes romances paranormais versando sobre
vampiros e os géneros associados de chick-lit vampírico
e detective do oculto são actualmente
um notável fenómeno de popularidade e em constante expansão, com novas obras
sobre o tema sendo publicadas a todo o momento. The Vampire
Huntress Legend Series de Leslie Esdaile Banks, a série
erótica Anita Blake: Vampire Hunter de Laurell K. Hamilton, e a série The Hollows de Kim Harrison, retratam o vampiro
numa série de novas perspectivas, algumas delas sem qualquer relação com as
lendas originais.
O final do século XX assistiu a um
recrudescimento nos épicos de vários volumes sobre vampiros. O primeiro destes foi a
série Barnabas Collins (1966-71), da
romancista gótica Marilyn Ross, vagamente baseado
na série de televisão americana contemporânea Dark Shadows. Esta obra definiu
ainda a tendência para representar os vampiros como heróis trágicos poéticos, ao invés das representações mais tradicionais de
símbolos do mal. Esta fórmula foi seguida pela romancista Anne Rice na série de
grande sucesso e influência Vampire Chronicles (1976-2003). Os vampiros da
série Twilight (2005-2008), de Stephenie Meyer, não são afectados
por alho ou crucifixos, nem pela luz solar.Richelle Mead desvia-se ainda mais do
vampiro tradicional na série Vampire Academy (2007-presente),
baseando os romances em lendas romenas com duas raças de vampiros, uma boa e
outra má, assim como semi-vampiros.
No Brasil o vampiro marcou presença nos
anos 1970 na literatura de banda desenhada com o
personagem Zé Vampir de Mauricio de Sousa. Mais recentemente,
em 2000, o escritor brasileiro André Vianco produziu uma
série de histórias de vampiros de sucesso, como Os Sete, Sétimo e O
Vampiro Rei.
Cinema e televisão
Considerada uma das figuras
proeminentes do cinema clássico de terror, o vampiro
demonstrou ser uma proveitosa fonte de inspiração para as indústrias
cinematográfica e dos jogos de vídeo. Drácula desempenha um papel principal em
mais filmes que qualquer outro personagem excepto Sherlock Holmes, e muitos filmes do
início do cinema foram ou baseados no romance Drácula, ou derivados
a partir deste com poucas adaptações. Entre estes incluem-se o emblemático
filme mudo alemão de 1922 Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens, realizado por F. W. Murnau e apresentando
a primeira representação cinematográfica de Drácula - embora os nomes e
personagens imitavam intencionalmente os de Drácula, Murnau não
conseguiu obter permissão da viúva de Stoker para o fazer, e foi obrigado a
alterar muitos aspectos do filme. Além deste filme houve ainda Dracula (1931), da
Universal, com Béla Lugosi no papel do
Conde, no que foi o primeiro filme sonoro representando Drácula. Nesta década
surgiram muitos outros filmes de vampiros, sendo o mais notável A Filha de Drácula em 1936.
A lenda do vampiro cimentou-se na
indústria cinematográfica quando Drácula reencarnou para olhos de uma nova
geração com a celebrada série de filmes de terror Hammer Horror, com Christopher Lee protagonizando
o Conde. O sucesso do filme de 1958 Dracula, protagonizado por
Lee, foi seguido de sete sequelas. Lee retornou como Drácula em todas excepto
duas, ficando bem conhecido por esse papel. Na década de
1970 os vampiros diversificaram-se no cinema, com trabalhos como Count Yorga, Vampire (1970), um
conde africano, no filme de 1972 Blacula, a produção da
BBC Conde Drácula, com o actor
francês Louis Jourdan como Drácula
e Frank Finlay no papel de Abraham Van Helsing, e um vampiro ao estilo de
Nosferatu na mini-série televisiva de 1979 Salem's Lot, e uma reedição do
próprio Nosferatu, intitulada Nosferatu: Fanthom
der Nacht com Klaus Kinski, no mesmo ano. Muitos filmes apresentaram vampiros femininos como
antagonistas, muitas vezes lésbicos, como em The Vampire Lovers da série Hammer Horror, produzido
em 1970 e baseado em Carmilla, embora o argumento ainda gire em torno de um
vampiro maléfico como personagem central.
O argumento do episódio piloto da série
televisiva de 1972 de Dan Curtis Kolchak: The Night Stalker girava em torno
do repórter Carl Kolchak numa caçada ao vampiro em Las Vegas. Filmes
posteriores mostraram uma maior diversidade de argumentos, tendo alguns se
focado no caçador de vampiros, como Blade na série de
filmes da Marvel Comics Blade, e o filme Buffy the Vampire Slayer. Buffy,
estreado em 1992, pressagiou a presença vampírica na televisão, com uma
adaptação para a série de sucesso do mesmo nome, e do seu spin-off Angel. Outros ainda
apresentaram o vampiro como protagonista, como o filme de 1983 The Hunger, em 1994 Entrevista com o Vampiro e a que pode
ser considerada uma sua sequela indirecta,rainha dos Condenados, e a série de 2007 Moonlight. Drácula de Bram Stoker foi um notável
filme de 1992, tornando-se o filme de vampiros mais repulsivo até então
produzido. Este aumento de
interesse em argumentos vampíricos levou à representação do vampiro em filmes
como Underworld eVan Helsing, e o filme russo Night Watch e da reedição
da mini-série televisiva 'Salem's Lot, ambos de 2004. A
série Blood Ties estreou na Lifetime Television em 2007,
apresentando um personagem representado como Henry Fitzroy, filho ilegítimo do
rei Henrique VIII de Inglaterra tornado
vampiro, na Toronto actual, com uma
ex-detective de Toronto como protagonista. A série de 2008 da HBO, intitulada True Blood, usa uma aproximação
sulista ao tema vampírico. Outro programa
popular sobre vampiros é The Vampire Diaries da CW. A continuada popularidade
do vampiro foi atribuída a dois factores: a representação da sexualidade e o medo
perpétuo da mortalidade.
A Rede Globo, no Brasil, exibiu duas
telenovelas abordando o tema: Vamp em 1991, e O Beijo do Vampiro em 2002. Na novela Caminhos do Coração da Rede Record um dos
personagens é um vampiro.
Em Portugal surgiram
em 2010 duas séries
televisivas sobre vampiros: Lua Vermelha, da SIC, em formato de série juvenil e
actualmente (2011) em exibição, e Destino Imortal, uma mini-série de
seis episódios da TVI.
Jogos de vídeo
A imensa popularidade da plataforma
Apple iOS como plataforma de jogos levou à adopção de jogos como Vampire Rush pela audiência
de jogadores ocasionais. O jogo de role-playing Vampire: the Masquerade teve grande
influência sobre a ficção vampírica moderna e elementos da sua terminologia,
como embrace e sire, passaram a ser largamente usados.
entre os jogos de vídeo sobre vampiros mais populares contam-se Castlevania, uma extensão do
romance original de Bram Stoker Drácula, e Legacy of Kain. Os vampiros
aparecem ainda esporadicamente em outros jogos, incluindo The Elder Scrolls V: Skyrim,onde, através de
combate com um Vampiro, os jogadores podem contrair a doença vampírica:
“Sanguinare Vampiris". uma aproximação
diferente aos tema vampírico ocorre em num outro jogo da Bethesda, Fallout 3, com "The
Family". Aqui são representados como alguém que sofre de desejos canibais,
mas contentou-se com o sangue de modo a não se afundar numa insanidade mental
ainda maior.
Bloody Kisses Lupina
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