O Codex Gigas é considerado o
maior manuscrito medieval existente no mundo. Foi criado no início do século
XIII, presumivelmente no mosteiro beneditino de Podlažice na Boémia (atual República
Checa), e agora está preservado na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo.
É também conhecido como a Bíblia do Diabo, devido a uma grande figura do diabo no
seu interior e da lenda em torno da sua criação.
O códice tem capas
de madeira, revestidas de couro e ornamentadas com motivos metálicos. Com 92 cm
de altura, 50 cm de largura e 22 cm de espessura, é o maior manuscrito medieval
conhecido.Atualmente
é constituído por 310 folhas de velino (uma espécie de pergaminho), mas há
indícios de algumas páginas terem sido retiradas da versão original. Não se
sabe quem o fez, nem se conhecem as razões de as páginas terem sido removidas,
embora se pense que algumas delas pudessem conter as regras monásticas dos
beneditinos. O códice pesa cerca de 75 kg, e o velino nele usado foi elaborado
a partir de pele de vitelo (ou pele de bezerro, segundo algumas
fontes), num total de 160 animais.
Uma nota na primeira página
indica os monges do mosteiro beneditino de Podlažice, localizado perto de Chrudim e
destruído durante o século XV, como os primeiros proprietários do códice.
A reduzida dimensão deste mosteiro e a aparente escassez de recursos humanos e
materiais faz levantar dúvidas sobre a sua capacidade de produção duma obra
desta dimensão.
Os registros nela contidos terminam no ano de 1229. A ausência de qualquer
referência à morte do rei da Boémia, Ottokar I, ocorrida em Dezembro do ano
seguinte, sugere que a data mais provável para a sua conclusão é o final do ano
de 1229 ou o início de 1230.
Devido a dificuldades financeiras do mosteiro de Podlažice, o códice foi mais
tarde penhorado aos Cistercienses do mosteiro de Sedlec. A mesma nota
na primeira página estabelece que em 1295 o códice voltou à posse dos
beneditinos, após ter sido comprado pelo mosteiro de Břevnov. De 1477 a 1593,
foi conservado na biblioteca de um mosteiro em Broumov até ter sido levado para Praga em
1594 para fazer parte da coleção de Rodolfo II.
No fim da Guerra dos Trinta Anos, em 1648, a colecção completa foi
saqueada pelo exército sueco e, de 1649 a 2007, o manuscrito foi mantido na
Biblioteca Nacional da Suécia.
Em 24 de Setembro de 2007, após 359 anos, o Codex Gigas voltou a Praga, a
título de empréstimo, e esteve exposto na Biblioteca Nacional Checa até Janeiro
de 2008.
O Codex inclui toda a versão Vulgata
Latina da Bíblia, exceto para os livros de Actos e Apocalipse,
provenientes de uma versão pré-Vulgata. Estão também incluídos a enciclopédia
"Etymologiae" de Isidoro de Sevilha, "Antiguidades Judaicas"
e "Guerras dos Judeus" deFlávio Josefo, "Chronica Boemorum"
(Crónica dos Boémios) de Cosmas de Praga e vários tratados sobre
medicina. Pequenos textos completam o manuscrito: alfabetos, orações,
exorcismos, um calendário com as datas de celebração de santos locais e registo
de acontecimentos relevantes, e uma lista de nomes, possivelmente de
benfeitores e de monges do mosteiro de Podlažice. Todo o documento está escrito
em latim.
O manuscrito contém figuras decoradas (iluminuras) em vermelho, azul, amarelo,
verde e dourado. As letras maiúsculas que iniciam os capítulos estão
elaboradamente decoradas com motivos que, frequentemente, ocupam grande parte
da página. O Codex tem um aspecto uniforme pois a natureza da escrita não é alterada
em toda a sua extensão, não evidenciando sinais de envelhecimento, doença ou
estado de espírito do escriba. Isto levou a que se considerasse que todo o
texto foi escrito num período de tempo muito curto. No entanto,
atendendo ao tempo necessário à marcação das guias de delimitação das linhas e
das colunas, à escrita do texto, e ao desenho e pintura das ilustrações, os
peritos acreditam que o livro terá levado mais de 20 anos a ser concluído.
A página 577 contém apenas uma
figura original de um diabo, com cerca de 50 cm de altura. Algumas páginas
antes desta, estão escritas sobre um velino escurecido e os caracteres são mais
esbatidos que no resto do manuscrito. A razão para a diferença nas cores é que
o velino, por ser feito a partir de peles animais, escurece quando exposto à
luz. No decurso dos séculos, as páginas mais expostas acabaram por ter um
aspecto mais escuro.
Ha de saber que, Segundo a
lenda, o escriba foi um monge que quebrou os votos monásticos e foi condenado a
ser murado vivo. A fim de evitar esta severa sanção, ele prometeu a criação, em
uma única noite, de um livro que glorificaria o mosteiro para sempre e que
incluiria todo o conhecimento humano. Perto da meia-noite, ele teve a certeza
que não conseguiria concluir esta tarefa sozinho e, por isso, fez uma oração
especial, não dirigida a Deus, mas ao arcanjo banido, Lúcifer,o
Satanás, pedindo-lhe que o ajudasse a terminar o livro em troca da sua alma. O
monge vendeu, assim, a sua alma ao diabo. Assim o manuscrito do monge foi
concluído e acrescentada uma imagem do diabo como agradecimento pela sua ajuda.
Apesar desta lenda, o códice não foi proibido pela Inquisição e foi
analisado por muitos estudiosos ao longo dos tempos.
Considerava-se por muito tempo
que esta versão de condenação ao emparedamento do monge era verdadeira, devido
à interpretação precipitada da palavra Inclusus, como sendo
emparedamento. Na verdade foi reconsiderada esta tradução como sendo
"recluso". Seria um monge que foi condenado, ou se condenou à
reclusão no monsteiro para realizar o trabalho de uma vida. Se reforça essa
versão pela "dedicatória" encontrada no final do livro: hermanus
inclusus, ou "Herman, o recluso" ou "Herman, o
enclausurado".